Como sempre me interessei por cinema e música, eu passei a adolescência estudando inglês, primeiro tentei escolas convencionais, mas nunca me adaptava aos métodos, pois sentia que aprendia muito lentamente. Pode ter sido afobação de adolescente, mas o que eu queria era acordar falando e entendendo tudo, odiava ler as legendas dos filmes e queria cantar minhas músicas preferidas a qualquer custo. Depois de um tempo, decidi estudar por conta, isso era antes dos DVDs com legendas em diversas línguas ou nenhuma. Eu ia à locadora de filmes e sempre alugava o mesmo filme “Pretty Woman – Uma Linda Mulher” que vinha com legenda em português, para não cair na tentação de lê-la, eu colava fita crepe na parte inferior da tela da TV, assistia ao filme do meu jeito, trabalhando cada cena, ouvia as frases e repetia quantas vezes fosse necessário imitando os atores e, quando não sobrava mais dúvida ou me cansava, mudava de filme e fazia a mesma coisa.
Após me formar na faculdade, decidi tentar um programa de intercambio nos Estados Unidos. Fui. O início foi cheio de contratempos. Apesar de já ter estudado inglês antes, viver a língua pode trazer muitas surpresas, como no dia em que eu fui abastecer o carro e ainda não percebia a diferença sonora das palavras “fill” e “feel”. Ao invés de falar para o frentista “fill it up, please” que significa complete o tanque, eu disse “feel it up, please”… dá para imaginar a cara que ele fez. Ou na ocasião em que estava trabalhando em um vídeo e precisei instruir o ator que naquela cena ele tinha que estar relaxado porque era “pleasure time” e todos no estúdio riram por causa da conotação sexual do que eu tinha dito. Diferenças culturais também não faltaram. Aprendi, entre muitas outras coisas, que um estrangeiro não oferece nada por educação como aqui no Brasil, se alguém te oferece alguma coisa, ele quer que você aceite.
Quando se ganha em dólar, tudo que você quer fazer fica mais acessível financeiramente, caso você não seja rico. Isso me deu a chance de viajar por muitos estados americanos e o Canadá, conhecer pessoas com quem até hoje mantenho contato, comer comidas exóticas, visitar pontos turísticos que antes eu só via na televisão ou nas revistas de viagens. Mais tarde, decidi morar, estudar e trabalhar na Irlanda por alguns anos; o que também de deu a chance de fazer a mesma coisa pela Europa. E alguns anos depois, eu ainda tentei a vida na República Tcheca, dessa vez, por amor, mesmo sabendo poucas palavras na língua local. Essa última experiência só foi possível porque o inglês é um idioma comum e as pessoas não se importavam com o fato de eu não conseguir me comunicar em tcheco, na verdade, elas gostavam de ter alguém para poder praticar o inglês delas por lá.
Embora eu ache outras línguas mais bonitas que o inglês, muito do que eu fiz no passado só foi possível porque eu me comunicava bem no idioma, principalmente quando diferentes nacionalidades estavam envolvidas. O inglês não apenas me possibilitou a conexão com outras pessoas, mas também me abriu portas: por poder falar a língua com maior fluência, tive empregos melhores no exterior, fiz cursos, não passei apuros em viagens, conheci mais gente e pude compreendê-las e me relacionar com elas de maneira mais profunda. Me sinto participante do mundo globalizado. Pode ler jornais internacionais, ouvir e entender as músicas que eu gosto, ver filmes, assistir telejornais em inglês sem a barreira da língua não tem preço e valem cada minuto do esforço que eu fiz.
Debora Souza